quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pedaços III


Hoje a manhã era de noveiro;
quantas vezes a minha vida
já não teve manhãs assim...
Vivo, esperando o kairos,
enquanto o chronos não pára.
Quando virá o Sol?
CM * 19 Fev. 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Pedaços II

O velho passou
deixou na alma as marcas
do momento que não volta mais.
A dádiva já não existe.
Sofro, mas não me sinto poetisa;
escrevo palavras a mais
dos acontecimentos banais
de uma vida que ficou
e que o velho teimou em levar.
A incógnita que virá,
se eu não for pó
nos instantes seguintes,
não passará disso mesmo.


CM
17 de Fev. 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pedaços I

Vem, C., vamos ouvir o mar,
Vamos comparar a sua grandeza
ao nosso enleio.
Envolve-nos este de tal forma que
nem a distância nem o tempo
é capaz de o afundar.

Bebe deste copo comigo.
Respira do meu ar,
deixa-te ir na loucura do sentir,
do querer. O desejo.
O amor (?)

Ama-me como no primeiro dia.
Despe de ti a pele do desassossego,
dá-me a tua mão.

CM

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Os ombros suportam o mundo (!)


"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação".


Carlos Drummond de Andrade





*Há dias em que o mundo nos pesa mais. Talvez por pesar menos.